Deus pode amaldiçoar um servo?
- Willer Félix
- há 4 dias
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Está escrito: “E, de manhã, voltando para a cidade, teve fome; e, avistando uma figueira perto do caminho, dirigiu-se a ela, e não achou nela senão somente folhas. E disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti, para sempre. E a figueira secou imediatamente.” (Mateus 21:18,19). Embora o contexto geral desta passagem sugira, a meu ver, um outro ensinamento do Senhor Jesus (que abordaremos no próximo post, se Ele quiser) gostaria de dividir com o querido(a) leitor(a) uma ideia que me ocorreu enquanto meditava sobre este texto bíblico: a figueira não serviu ao Senhor com o seu fruto, porque não os tinha; no entanto, não ficou impune e foi alvo de uma maldição da parte de Deus. Isto me remeteu à imagem de um servo que, tendo consciência da sua responsabilidade de servir ao Senhor com frutos, nega-Lhe esse direito.
Não tem sido esta razão de muitos estarem debaixo de maldição também hoje? E afinal, qual seria o fruto que Deus espera de Seus filhos?
Penso que o fruto engloba, entre outros, dois aspectos centrais: nosso comportamento, conforme Gálatas 5.22: “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.”; e também a geração de discípulos, como está escrito em Mateus 28.19-20: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação do mundo. Amém.” Creio que não podemos confundir estes frutos com as meras obras que são realizadas nas igrejas, tais como a limpeza e conservação dos templos e até mesmo os trabalhos de natureza evangelística. Obviamente, as pessoas nascidas do Espírito farão todas estas coisas: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” (Efésios 2.10); no entanto, seu trabalho para Deus não é superficial; é resultado da sua transformação interior e aparece no mundo como um fruto genuíno, proveniente de uma raiz espiritual profunda. O nascido não faz para ser de Deus; ele faz porque é de Deus. É possível que alguém que arroga para si a condição de servo do Altíssimo faça muitas obras e não apresente ao Senhor frutos que O agradem. Temos esta confirmação numa das cartas de Jesus ao anjo da igreja em Éfeso: “Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, (...). Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres.” (Apocalipse 2:2,5). Havia trabalho mas não havia amor como no princípio da fé, tornando as obras desagradáveis ao Mestre. Por uma questão didática, podemos separar os frutos em duas categorias: os naturais ou superficiais, puramente físicos, desconectados de uma natureza espiritual regenerada e os espirituais ou verdadeiros, que são a expressão de um caráter transformado por Deus. Os últimos são os que o Senhor aceita enquanto os primeiros são pseudofrutos que serão rejeitados, fazendo assim da sua árvore como aquela figueira estéril que Cristo amaldiçoou.
Cada um precisa refletir sobre a sua própria natureza interior. Se alguém não é convertido e se esforça para fazer as obras de um nascido de novo, está se enganando. O esforço pode iludir os incautos por um tempo mas, cedo ou tarde, a verdade virá à tona. De fato é impossível sustentar qualquer tipo de conduta que contrarie quem nós somos de verdade. Imagine esta cena: uma pessoa compra um saco de mangas e começa a usar pedaços de barbante para amarrá-las, uma por uma, em um grande abacateiro. Quem passar no primeiro ou segundo dia (e não entende de árvores) pode até se enganar pensando que se trata de uma mangueira carregada; porém, com o tempo, as frutas apodrecerão, os barbantes arrebentarão, tudo vai começar a cair e a farsa vai acabar. E quando os abacates aparecerem, quem se enganou vai ter um choque de realidade. Assim acontece com os que, pretendendo-se servos de Deus, tentam “maquiar” sua natureza com frutos postiços: o tempo vai passar, seus feitos vão se deteriorar e os maus frutos verdadeiros vão denunciar a árvore má para todos os que passarem. Aprendi uma coisa muito importante nesta minha curta caminhada com Deus: o fruto nunca nega a natureza da árvore que o produziu. Cristo disse: “Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca.” (Mateus 12:33,34). Há uma incongruência entre ser mau e (tentar) fazer o bem genuinamente. Reflita sobre a sua própria vida. Você é uma árvore boa que, apesar de suas falhas, produz bons frutos ou ainda é uma árvore má tentando parecer boa? Cada um sabe de si e se existe falta de paz com relação à sua condição espiritual há um forte indicativo de que algo precisa mudar.
Finalizando a nossa meditação de hoje, trago um bordão que todo evangelista da Universal já ouviu/falou: “quem é salvo, quer salvar!” E é a mais pura verdade. É impossível que uma pessoa regenerada pelo Espírito Santo não sinta o desejo de compartilhar o que recebeu com os outros. Há um corte de uma reunião do bispo Macedo, que estou assistindo de novo neste exato momento, em que ele reforça esta visão. A ousadia no trabalho evangelístico é característica marcante do trabalho da igreja, como reflexo do caráter missionário de quem é de Deus. Tenho para mim que os que não nutrem paixão pelas almas dão o direito a quem os observa de pôr em questão seu batismo com o Espírito Santo e até mesmo sua conversão. Depois que o Senhor Jesus enviou o Consolador, toda a igreja se moveu num ímpeto incrível para alcançar os que estavam perdidos; Pedro, João e tantos outros passaram a fazer muito mais por Deus após aquele dia especial no cenáculo em Jerusalém. Não encontramos na Bíblia exemplos de homens e mulheres cheios do Espírito cuidando da sua própria vida e ocultando a Palavra que os salvou: o que acontecia era exatamente o oposto! E Deus não mudou. Quem é cheio de Sua presença quer salvar o seu próximo se dispondo a fazer o que for preciso para cumprir seu intento: “Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais. E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele.”(1Coríntios 9:19-23). Ganhar uma alma vai muito além de levá-la para participar de um culto na igreja. É fazer um discípulo.
Os discípulos formados são frutos que produzirão outros frutos, que por sua vez também se multiplicarão e permanecerão por toda a eternidade
A Palavra diz: “Maldito aquele que fizer a obra do Senhor fraudulosamente(...)” (Jeremias 48:10). O servo fiel é abençoado mas o falso estará debaixo de maldição. Produza frutos que agradem a Deus e faça discípulos. Somente as boas árvores permanecerão quando aquele Dia chegar: “Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. (...) E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” (Mateus 7:16-20,23). Abra os seus olhos e busque ao Senhor!
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